terça-feira, 16 de setembro de 2008

Semana Farroupilha I

Farroupilha — A Origem

A denominação "farroupilha" é anterior à Revolução e era utilizada para designar os grupos liberais de idéias exaltadas.

Em 1829 os Farroupilhas já reuniam-se em sociedades secretas, como a Sociedade dos Amigos Unidos, do Rio de Janeiro, cujo objetivo era lutar contra o regime monárquico. Desde então, eram chamados de farroupilhas e publicavam dois jornais no Rio de Janeiro: A Jurubeba dos Farroupilhas e A Matraca dos Farroupilhas.

Segundo Evaristo da Veiga, o termo foi inspirado nos sans-culottes franceses, os revolucionários mais extremados durante o período da Convenção (1792 a 1795). Os sans-culottes, que literalmente quer dizer sem calção, usavam calças de lã listradas, em oposição ao calção curto adotado pelos mais abastados.

O Partido Farroupilha foi fundado no Rio Grande em 1832, por Luís José Alpoim, que participante das agitações populares de 7 de abril de 1831, no Rio, e que resultaram na queda do Imperador. Desde o início o partido teve atuação intensa, sobressaindo-se a manifestação contra a instalação da Sociedade Militar (que congregava conservadores) em Porto Alegre, em outubro de 1833.



Por Que "Gaúcho"?

Quando o Rei da Espanha mandou casais de agricultores das Ilhas Canárias para povoar a recém-fundada Montevidéu, eles transplantaram a palavra pela qual identificavam o habitante autóctone das ilhas — guanche, ou guancho.

Segundo o Aurélio, a palavra origina-se justamente o espanhol platino gaucho, significando "primitivamente, o habitante do campo, descendente, na maioria, de indígenas, de portugueses e de espanhóis; por extensão, o natural do interior do Uruguai e de parte da Argentina; peão de estância; cavaleiro hábil".

O gaúcho e seus hábitos serão melhor abordados posteriormente.



A Revolução Farroupilha / O 20 de Setembro

Na década de 1830, os estancieiros gaúchos, produtores de charque e couro, reclamavam duramente do governo imperial devido à concorrência desleal que sofriam em relação ao Uruguai e à Argentina, países que também produziam e vendiam charque para as províncias brasileiras. Como os impostos de importação eram baixos, os produtos importados pelo Uruguai e da Argentina chegaram a custar menos que a carne do Rio Grande do Sul, o que estava arruinando a economia gaúcha.

Revoltados contra a centralização do Poder Federal, a espoliação econômica da região e a expropriação e desvio dos recursos acumulados no Estado — que eram utilizados até mesmo para pagar dívidas federais junto à Inglaterra — os Farrapos, unidos e mobilizados sob a liderança de Bento Gonçalves e de outros nomes como David Canabarro, Anita e Giuseppe Garibaldi, deram início à Revolução Farroupilha em 20 de setembro de 1835.

Introduzindo revolucionárias práticas democráticas, em 1837 e 1838 libertaram os escravos que haviam participado da revolução; reduziram os impostos sobre exportação e restabeleceram o imposto sobre importação de gado; criaram uma fábrica de arreios e outra de curtir couros, além de promover o recenseamento da população. Ainda, dentre as medidas mais importantes, institui-se a República Piratini, a Assembléia Constituinte e o sistema eleitoral, este baseado no sufrágio universal, com voto obrigatório e apuração perante o povo reunido.



Maragatos vs. Chimangos



Missa Crioula: nós simbolizando a paz entre Maragatos e Chimandos

Os Maragatos (revolucionários), identificados pelo lenço vermelho no pescoço, foram assim apelidados pelos republicanos. Os revoltosos liderados por Silveira Martins, deixaram o exílio no Uruguai e entraram no RS à frente de um exército. Como esse exílio havia ocorrido em região do Uruguai colonizada por pessoas originárias da região espanhola da Maragateria, os republicanos apelidaram-nos de "maragatos", buscando caracterizar uma identidade "estrangeira" aos federalistas.

Com o tempo, o termo "perdeu" a conotação pejorativa e assumiu significado positivo, sendo aceito e defendido pelos federalistas e seus sucessores políticos.

Os Chimangos (republicanos), identificados pelo lenço branco no pescoço (também podem ser grafados ximangos), têm essa denominação originária na ave de rapina de mesmo nome, uma falconídea, semelhante ao carcará ou, em linguagem popular, caça com a qual não vale a pena se gastar chumbo.

Além de sinalizar os partidários de Júlio de Castilhos e Borges de Medeiros na Revolução Farroupilha, na década de 1920, também foi alcunha dada pelos federalistas ao governistas do PRR (Partido Republicano Rio-Grandense).



Semana Farroupilha — O Início

As comemorações da Semana Farroupilha começaram em 1947, por iniciativa de alguns estudantes do Colégio Júlio de Castilhos de Porto Alegre (dentre eles Paixão Cortes, um dos maiores tradicionalistas gaúchos), na intenção de resgatar o patrimônio sócio-cívico-cultural rio-grandense e também como contrapartida ao americanismo exacerbado existente na época.

Inicialmente chamada de Ronda Gaúcha, era comemorada do dia 7 de setembro, data da independência do Brasil, até o dia 20 de setembro, data de início da Revolução Farroupilha.



A Chama Crioula

Na época, o acendimento da Chama Votiva da Ronda Gaúcha, feita à meia noite do dia 7 de setembro com a retirada de uma centelha do Fogo Simbólico da Semana da Pátria, recebeu a denominação de "Chama Crioula".

A essa tradição, até hoje honrada, segue-se a distribuição da Chama por todo o Estado, durante as festividades da Semana Farroupilha.





Bibliografia

Paixão Cortes In: Origem da Semana Farroupilha — Primórdios do Movimento Tradicionalista
A origem da palavra "Gaúcho" — Barbosa Lessa In: Rodeio dos Ventos
Cardoso Nunes, Zeno/Rui In: Dicionário de Regionalismos do Rio Grande do Sul
Website Viver No Campo
Website RS Virtual apud Gomes Carneiro, Lígia de Azambuja

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